Na cidade clã de Ciro Gomes, estudante que votará pela primeira vez neste ano diz que votaria em Lula “para não haver retrocessos”
A cerca de 200 quilômetros de Fortaleza, a cidade de Sobral é lembrada, principalmente, por duas características. A primeira é ser o clã da família Ferreira Gomes, raiz dos irmãos Ivo Gomes (PDT), atual prefeito da cidade, Cid Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e ex-prefeito de Sobral, e Ciro Gomes (PDT), ex-governador, ex-prefeito de Fortaleza e candidato à presidência pela terceira vez. A segunda, é pelos bons índices nas avaliações de qualidade do ensino público, em especial, o municipal, nos últimos anos.
Esse último destaque é o principal motivo de orgulho para o estudante Tailson Vasconcelos Alves, 18. “Gosto do ensino daqui, acho muito bom”. Ele estudou a vida toda nas escolas públicas de Sobral. Formou-se em um colégio técnico do Estado, no curso de Redes de Computadores, e depois entrou na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde cursa Engenharia da Computação. O pai, pedreiro, não terminou o segundo grau. A mãe, dona de casa, não concluiu o ensino fundamental. Tailson é a primeira geração da família a chegar ao ensino superior, com ajuda do Sistema de Seleção Unificada (SISU), criado pelo Governo Federal em 2010 para o ingresso de estudantes em universidades públicas.
Com esse histórico, o estudante teme retrocessos em um próximo governo. “Se Jair
Bolsonaro ganhar, tenho medo de a censura voltar, de haver mudanças radicais nas escolas, o estímulo ao preconceito”, diz. Por isso, ele acha o voto importante e nem pensa em anular ou votar em branco. “Se Lula fosse candidato, votaria nele”, afirmou. Mas na ausência de Lula nas urnas, seu plano B não é o petista
Fernando Haddad, e sim, Ciro Gomes. “Não por ele. Mas para não votar nos outros”, sem nenhuma reverência à tradicional família Ferreira Gomes.
Este será o
primeiro voto de Tailson, que tirou o título de eleitor no final do ano passado, mas
sem nenhuma perspectiva de ter um candidato ideal. “Não tem candidato perfeito”, diz. “Não posso afirmar que se Lula ganhasse seria bom, mas ao menos com ele não haveria retrocessos”. Mas ao ser perguntado sobre Fernando Haddad, o substituto de Lula na chapa petista, o estudante é taxativo. “Não conheço [Fernando] Haddad e não votaria em nenhum outro do PT que não fosse Lula”. Segundo o estudante, seu voto será por eliminação. “Outros candidatos abordam ideologias preconceituosas.
Bolsonaro (PSL) e
Daciolo (Patriota) não sabem falar de economia”, disse, enquanto liderava calouros pedindo dinheiro pelas ruas da cidade para a festa do início do semestre. Na faculdade, os alunos, ele diz, têm preferências variadas. “Tem um grupo lá que apoia Bolsonaro”, afirma. Mas não há brigas ideológicas. “Quando alguém concorda com ideias que me ferem, eu não deixo de falar com essa pessoa, mas procuro me afastar um pouco”.
Já em casa, a família tem a mesma opinião. “Lá em casa todo mundo é Lula. E sem ele na disputa, o voto é em Ciro”, diz. O ex-presidente Lula liderava as intenções de voto no Estado, segundo o Ibope de agosto, com 56% das preferências, na frente de Ciro, com 15%, e
Jair Bolsonaro (PSL), com 9%. Sem Lula, Ciro ficava com 39%. Tailson vive no bairro Recanto 1, na periferia de Sobral. Mora com os pais, que atualmente
formam parte de um grupo de quase 14 milhões de desempregados, e a irmã mais velha. O pai, pedreiro, está sem trabalho há mais de três anos. “De vez em quando ele consegue um bico”, diz o estudante. Já a mãe,
trabalhou como empregada doméstica e depois como manicure, mas por um problema de saúde teve de ficar em casa. “Meu pai não gostava que ela trabalhasse também”, ele conta. A casa, é sustentada pela irmã, de 19 anos, agente de saúde. Tailson não trabalha. “Meu pai não me pressiona para que eu trabalhe. Ele quer que eu termine a faculdade”, diz.
Apesar do momento de crise que o país atravessa, ele afirma ter esperança. Está em dúvida entre seguir carreira pela área de automação ou desenvolvimento quando se formar. Para ele, o mais importante nestas eleições é a presença de um candidato nordestino. “Falar é fácil. É fácil falar sobre um grupo social, sem pertencer a ele”, afirma. “Mas é a gente que sente os impactos [de um presidente preocupado ou não com o Nordeste]”.
Fonte: EL PAÍS
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