
O VALOR DO TER E DO SER
O grande enigma existencial está na compreensão dos autênticos valores formadores da índole humana; existem aqueles que são intangíveis ou abstratos, constituídos dos valores morais, espirituais e intelectuais que se sedimentam em nosso espírito e consciência através das experiências vivenciadas, os quais dizem respeito ao ser e são transcendentais; também existem aqueles que são tangíveis ou concretos, materializados diante da nossa visão e sentidos ao nosso contato, estes são tidos com uma significação de maior importância, especialmente para os formadores de uma consciência materialista, tendo como característica a sua efemeridade; dentro deste contexto da valoração do ente humano, persiste a lógica da compreensão do ser e do ter, que são parâmetros que se polarizam, porém se completam.
Quando nascemos somos uma fagulha de vida, com o compromisso de transformá-la num intenso facho de luz, justamente pela conquista destes valores, este é o verdadeiro desiderato de todos nós; porém muitos naufragam no mar caudaloso do ter e terminam por ofuscarem o brilho do ser. No entanto, existem aqueles que seguem o roteiro na busca do ser, navegando nas águas humildes dos dons inatos da iluminação, embora recolhidos no seu anonimato encontram o ambiente seguro para fazerem germinar, os autênticos valores que notabilizam o homem, que se eternizam nas suas ações, apesar de simples e modestas, mas que resplandecem eternamente.
O Grande Cidadão do Universo, de passagem por esse orbe há dois milênios atrás, também já nos alertara em muitos dos seus preceitos, a respeito dos verdadeiros tesouros, como sendo os fundamentais, aqueles que amealhamos numa outra dimensão da vida, dissera Ele: – que lá os ladrões não os roubam, a ferrugem não os corroem e nem a traça os destroem; mostrando de forma velada, mas verdadeira, quais valores devemos nos preocupar em cultivá-los, para o nosso enriquecimento e sustentação plena; e assim, estarmos imunes às preocupações de um materialismo sem solidez moral e pérfido.
Pois, assim como a felicidade, também a eternidade não é daqui da Terra, e chega o momento que temos que fazer a viagem de volta de onde viemos, em atendimento ao ordenamento das leis naturais, é neste instante que percebemos que o ter fica para trás e o que segue é o ser, com os seus atributos adquiridos durante a romagem terrena; o que o imortal Raul Seixas afirmara filosoficamente a esse respeito: “Nas ilusões da vida, encontrei a morte. Na realidade da morte, descobri a vida”.
Por isso, esta singela moldura dissertativa é tão somente um quadro reflexivo, para expor a figura nobre e simples de Otaviano Arcênio de Brito, popularmente Otaviano Cena, um filho ilustre, apesar de humilde, das terras férteis de São João Batista, marcada pela longevidade feliz de uma existência nonagenária, onde os valores que dignificam o ser, foram indelevelmente sedimentados em sua alma e mente, através das suas experiências vivenciadas nas Areias Brancas do seu chão natal. Dentre todos os seus talentos, certamente, o que mais o notabilizou fora a poesia.
Foram mais de setenta anos cultivando arte poética com desvelo e alegria, para enriquecimento cultural do povo alagoinhense. Sem sombra de dúvida, a personalidade iluminada de Otaviano Cena, será chama que ficará para sempre acesa na memória desta gente, no bruxulear dos seus versos e rimas.
Portanto, para vivermos eternamente precisamos apenas ser; mas para sermos, temos que ter… ter coragem, ter caráter, ter esperança, ter alegria, ter respeito, ter humildade, ter simplicidade, ter etc. Enfim, para sermos seres humanos, basta apenas que sejamos mais humanos.
Por: Fco. Valentim Neto
Grupo de Escritores do Vale do Riachão
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