Não bastasse a animosidade recíproca construída durante a campanha, Ciro se encarregou de fazer um risco de faca no chão: “PT nunca mais”
“A esquerda só se une na cadeia”. Não há frase que resuma melhor a vocação dos progressistas brasileiros do que essa, de autor desconhecido (ou foragido). E é dessa maldição que Ciro Gomes (PDT) pretende se livrar ao aceitar, de peito estufado, ser tratado como o principal inimigo do PT desde o segundo turno das eleições presidências de 2018.
Pergunte a um petista quem é responsável pela derrota de Haddad ano passado. Nenhum militante vai admitir que a messiânica e natimorta candidatura Lula foi o maior erro da esquerda na história do Brasil – mais infausta que a Intentona Comunista ou a Guerrilha do Araguaia.
Que nada. O motivo do fracasso, para petistas namastê ou taliban, foi a viagem de Ciro Gomes a Paris, no intervalo entre o primeiro e o segundo turnos. Ele teria “fugido” de sua responsabilidade de pousar armas aos pés de Haddad, motivo que o elevaria à categoria de traidor da nação e do proletariado.
Não adianta argumentar que essa tese é não só ridícula do ponto de vista lógico como é indecente do ponto de vista ético. Pelo visto, até a direita vai fazer autocrítica antes do PT.
Não bastasse a animosidade e desconfiança recíprocas construídas durante a campanha, Ciro se encarregou de fazer um risco de faca no chão: “PT nunca mais”, declarou, após a eleição de Bolsonaro. Não era um blefe, como podemos constatar pelas frequentes demonstrações de afastamento do pedetista – sempre seguidas de provocações e xingamentos da arquibancada petista.
É mais fácil ouvir críticas de dirigentes e eleitores do PT dirigidas a Ciro do que a Bolsonaro. Essa indisposição até pode mudar com o tempo, mas é pouco provável. A frente de centro-esquerda para as eleições de 2022 (aquela coligação que deveria ter isso construída em 2018) foi colocada como prioritária por Lula, em recente encontro, em Curitiba, com o presidente do PDT, Carlos Luppi. Só agora? Se falta autocrítica, sobra autoestima.
“Eu conheço vocês, unidade é o cacete”, esbaforiu Ciro na noite desta segunda-feira (27), em acalorada discussão com a deputada federal Maria do Rosário (PT), durante o 1º Congresso das Policias Antifascismo, em Pernambuco.
FONTE: Marco Antonio Araujo, do R7
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