Em meio ao agravamento da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mantém sua avaliação no melhor nível desde que começou o mandato.
É isso o que revela pesquisa nacional do Datafolha feita por telefone nos dias 8 e 10 de dezembro, na qual foram ouvidas 2.016 pessoas. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
A curva de aprovação do mandatário, para quem o país vive um “finalzinho de pandemia” apesar de os números dizerem o contrário, seguiu estável em relação ao levantamento anterior.
Acham o presidente ótimo ou bom 37% dos brasileiros, mesmo nível da rodada de 29 e 30 de agosto.
Aqueles que o veem como ruim ou péssimo oscilaram negativamente de 34% para 32%, os que avaliam como regular são 29% (eram 27%).
Bolsonaro segue sendo o presidente com pior avaliação, considerando aqueles eleitos pelas urnas para um primeiro mandato depois da redemocratização de 1985, com a exceção de Fernando Collor (PRN, 1990-92).
No mesmo momento do mandato, em fevereiro de 1992, o hoje senador tinha rejeição de 48% e aprovação de apenas 15% –acabaria renunciando me meio ao impeachment no fim do ano.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 45%), Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 47%) e Dilma Rousseff (PT, 62%) tinham aprovações superiores às de Bolsonaro a esta altura de suas primeiras gestões.
A evolução da popularidade de Bolsonaro conta a seguinte história: um 2019 com o país tripartido, mas que a partir de agosto viu a rejeição aumentar e se descolar do bloco aprovação/regular.
O pior momento para o presidente foi junho deste ano, com o auge da crise institucional com outros Poderes e com os impactos da pandemia se consolidando. Bolsonaro batia em 44% de rejeição e 32% de aprovação, com 23% que o viam como regular.
A prisão do ex-assessor do clã presidencial Fabrício Queiroz, em 18 de junho, marcou a mudança de Bolsonaro na política, compondo com o centrão e deixado de lado a campanha golpista contra o Supremo e o Congresso.
Ao mesmo tempo, foi instaurado o auxílio emergencial e políticas para áreas em que sempre foi mais impopular, como o Nordeste.
Na pesquisa seguinte, a anterior à atual, o resultado já podia ser visto, ainda que os entrevistados que receberam a ajuda não fossem especialmente mais generosos em sua avaliação de Bolsonaro.
Em levantamentos feitos em capitais, especialmente São Paulo e Rio, a rejeição ao presidente durante a campanha eleitoral municipal havia subido sensivelmente.
Nesta pesquisa nacional, a diferença é clara: regiões metropolitanas registram uma rejeição de 40%, ante 26% em cidades do interior.
Na análise regional, foi cristalizada a penetração de Bolsonaro no Nordeste, tradicional fortaleza de esquerda no país e área fortemente influenciada por políticas assistencialistas.
Depois de cair de 52% para 35% de junho para agosto, agora o presidente marca 34% de ruim/péssimo entre nordestinos, repetindo o cenário de divisão em terços do eleitorado que o país apresentava em 2019.
O auxílio na pandemia, que foi de R$ 600 e agora está em R$ 300 mensais, acabará no fim deste ano e o governo estuda formas de manter alguma forma de complementação de renda para os mais carentes.
Na outra ponta, o Centro-Oeste e o Norte se mantiveram como regiões mais bolsonaristas, com 47% de aprovação do titular do Planalto.
O Sul, que foi bastião do presidente na eleição, nivela com o país e lhe dá 39% de bom e ótimo, assim como o populoso Sudeste, com 36%.Também no Centro-Oeste/Norte está a maior quantidade de pessoas que confiam no que diz o presidente: 29%.
No país como o um todo, 37% não confiam, 39% o fazem às vezes e 21% acham que tudo o que Bolsonaro afirma é confiável.
Significativamente, é no crucial assunto pandemia, marcado por frases negacionistas, irônicas e até homofóbicas do presidente, que se vê a maior diferença na percepção de sua confiabilidade.
Entre aqueles que acham que a Covid-19 está piorando entre nós, 43% nunca confiam em Bolsonaro, ante 15% que sempre o fazem. Já para quem a pandemia está melhorando, 38% confiam e 20%, não creem no presidente.
Da mesma forma, aquelas pessoas que dizem que não mudaram sua rotina por causa da pandemia aprovam mais (54%) o presidente.
Os que dizem tomar cuidados dão 38% de ótimo e bom, ante 32% entre quem só sai de casa se for inevitável e 30%, entre os ainda isolados –grupo onde a rejeição ao presidente bate 47%.
Em outro sinal sobre o peso da pandemia, o tema saúde manteve o primeiro lugar como principal problema brasileiro neste ano.
Em pesquisa realizada em dezembro de 2019, 19% citavam a questão espontaneamente. Agora, são 27%.
Além das posições polêmicas, Bolsonaro passou o ano duelando com o governador paulista, João Doria (PSDB), acerca do manejo da crise –o atual capítulo é a “guerra da vacina”.
Outros problemas citados pelos brasileiros são o desemprego (13%), economia (8%) e corrupção (7%), todo estáveis.
A inflação (2%) surge na lista, na esteira da renovada preocupação com o tema, e oscila positivamente a qualidade dos governantes (de 1% para 5%).Caiu a preocupação com educação (14% para 6%) e segurança (13% para 4%), em relação a dezembro passado. No geral, homens (42%) e pessoas de 45 a 59 anos (42%) são as quem mais aprovam o presidente. A maior rejeição ocorre entre quem tem curso superior (48%) e entre os mas ricos.
Este último grupo, que compreende as pessoas que ganham mais de 10 salários mínimos, registra 47% de rejeição a Bolsonaro.
Mas ele é bem avaliado, dentro da média nacional, com 39% de ótimo e bom. A diferença aqui é tirada da fatia que o acha regular. Entre os mais pobres, o presidente tem avaliação dentro da média geral.
Quando o corte é a ocupação do entrevistado, empresários são de longe os mais satisfeitos (56% de aprovação) e estudantes, os menos (49% de reprovação) com Bolsonaro. O Datafolha perguntou ao entrevistados acerca de sua percepção das realizações do governo e quis saber de suas expectativas para 2021.
Para 17%, Bolsonaro fez mais do que o esperado, enquanto 21% acham que ele cumpriu o prometido. Já 55% creem que ele fez menos do que o previsto.
Acreditam que o ano que vem será melhor pessoalmente 68% dos ouvidos, enquanto 58% acha que ele assim o será para todos. Acham que ficará tudo na mesma para si 19% (18% para todos) e preveem um 2021 pior do que este ano de pandemia 10% –isso em nível pessoal, dobrando para 20% quando a expectativa é geral.
Fonte: Folhapress/Igor Gielow
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